A cidade parou. As ruas ficaram vazias. Os que puderam, fugiram. Os que ficaram, se trancaram em casa. Turistas e visitantes (65 milhões ao ano) sumiram. Restaurantes, lojas e teatros fecharam. A bolsa fechou o pregão. Negócios faliram. O metro deixou de funcionar de madrugada. As ruas ficaram desertas, com exceção de uns poucos ciclistas.
Isoladas, as pessoas se reuniam desde as suas janelas e sacadas religiosamente, às 7 da noite, em um aplauso coletivo. Uma homenagem singela aos médicos, enfermeiros e outros que seguiam em seus postos de trabalho. Era o único sinal de vida, além das sirenes das ambulâncias...
Os parques ficaram abertos. Mas a primavera veio e foi embora e ninguém se deu conta.
Caminhar pela cidade vazia foi uma experiencia inusitada. Sem esbarrar em ninguém, sem ter que desviar de ninguém, sem concorrer pelo espaço com ninguém, sem ver quase ninguém...Poder ouvir o canto dos passarinhos... Nova York não foi feita para tanta gente.
Com a brutalidade da polícia, as manifestações conquistaram as ruas com uma energia emocionante. Houve pilhagem. As lojas colocaram tapumes nas suas vitrines. Um toque de recolher foi imposto, mas durou pouco.
Com a chegada do verão e a redução de casos, a cidade volta a se abrir. As pessoas saem das suas tocas e correm aos parques. Nunca vi o Central Park tão cheio! Festas, reencontros, piqueniques, pintura, aulas de fitness, yoga e meditação. Os parques transformam-se em espaços viabilizadores, onde o risco de contágio é minimizado.
Restaurantes voltam a funcionar e aparecem os pátios improvisados. Nas calçadas, nas ruas. Estas ganham uma nova prominência na cidade: até manicure é feita nas calçadas...
Mas a cidade segue limitada. Sua rica fábrica social e sua intensa vida cultural continuam presas em uma camisa de força...Por enquanto, o verão nos permite um breve respiro de normalidade, ainda que restrito. Controlado. A nova normalidade. Mas essa será passageira: entra outono, começa o frio; sem vacinas e com o vírus à solta, é muito provável que voltaremos a viver em uma cidade fantasma. Em uma versão pálida e acanhada da cidade que nos fascina tanto.
E fica a pergunta que vi em um grafite em Bushwick: onde está a verdadeira New York?
Nota: Esse comentario foi publicado originalmente no site desestrutura.com